terça-feira, 3 de abril de 2007

Pormenores Fundamentais






Pelo menos, só hoje reparei. Nem passo ali a pé. Parece-me que foi recentemente que a Av. 5 de Outubro viu serem mudados os seus candeeiros de iluminação pública. Desconheço com detalhe se os anteriores estavam já no fim de vida ou não. Mas sei que eram peças “normais”, semelhantes às que encontramos naquela zona da cidade.

E como são os novos? Só os vi de dia e chega-me. Não discuto se iluminam melhor (basicamente é uma questão de lâmpada e mecanismo de suporte) mas interessa-me discutir a sua qualidade estética e sinalização.

Explico. O primeiro-ministro disse ontem que as cidades são economicamente interessantes quando são bonitas, porque se tornam atractivas. A beleza das cidades faz-se de muitos milhares de factores, entre os quais o do mobiliário urbano.

No livro PARADIGMA URBANO – AS CIDADES DO NOVO MILÉNIO, Quetzal Editores 2002 (obra muito interessante, desde que lida criticamente), há um estimulante artigo, desde já recomendado aos autarcas e dirigentes municipais, que se chama, precisa e sugestivamente A IMPORTÂNCIA DOS CANDEEIROS E DAS CABINES TELEFÓNICAS, onde se escalpeliza a necessidade de certos objectos permanentes das cidades serem belos e fortes, transmitindo solidez, estabilidade e segurança aos cidadãos.

Estes candeeiros não são bonitos e não têm dignidade. Que sinais podem eles transmitir? A mim, sinalizam-me uma ideia pífia de cidade.

A foto não deixa perceber a falta de qualidade do objecto, demasiado fino mas não tão fino quanto o deveria se fosse efectivamente um candeeiros fino. É algo de equívoco ou híbrido, com um penduricalho lá em cima a fazer que é bonito. Nem suporte possui, nasce fininho e medíocre directamente para os ares. Um objecto pretensioso, fortemente suburbano, descabido no miolo da cidade – e como se deseja que os subúrbios também dispensassem estes candeeiros, seriam então o que não são.

E depois há outro pormenor, tão fundamental quanto o primeiro. Aquela marca lisboeta, tão inequivocamente lisboeta, tão permanentemente lisboeta, do desleixo e da trapalhice: aparentemente acabada a obra, restam montinhos de entulho aqui e acolá, um, dois, três buraquinhos que falharam a serem tapados, mais à frente uns montículos de areia que não foram levados, mais à frente uns suportes de pedra dos antigos candeeiros que também ficaram esquecidos.

Não é assim que se fazem cidades bonitas. Nem cidades. Assim só se fazem conglomerados de cimento e gente.
É Lisboa.
Tramaram-nos, não?

Texto e fotos gentilmente enviadas por Nuno Caiado

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