sexta-feira, 16 de março de 2007

Caridade

A Câmara ardente de Lisboa deixou de apoiar os sem-abrigo. E entende-se a decisão da maioria social-democrata: os sem-abrigo, para existirem como tal, dependem absolutamente da falta de apoio. É uma questão de identidade. Dar apoio, resguardo, refúgio ou guarida aos sem-abrigo é ameaçar de extinção essa espécie que faz parte da matriz e da imagem da sociedade.
Um vereador de uma das oposições levantou a questão das dívidas da Câmara a instituições de apoio aos sem-abrigo. Mas a discussão do assunto apenas serviu para descobrir que a Câmara lenta de Lisboa também deixou de pagar a instituições de apoio aos deficientes. Os vereadores da maioria confirmaram tais dívidas que se deverão a conflitos entre diversos pelouros com o das Finanças.
Agora, do que ninguém pode acusar a CML é de discriminação. A Câmara deixou de pagar aos sem-abrigo e aos deficientes tal como “não pagou a dezenas de pessoas”, como muito bem disse um vereador da maioria, explicando às oposições o que são “problemas de tesouraria”. A Câmara escura de Lisboa não paga e acabou-se a conversa. Mas como não há regra sem excepção, a maioria PSD da CML, neste caso com o apoio dos vereadores comunista e centrista, decidiu manter os subsídios para arraiais e marchas populares ao nível dos praticados nos tempos de vacas gordas. Assim, os sem-abrigo e os deficientes, pelo menos, podem juntar-se aos demais lisboetas para desfrutar os Santos Populares.
Mas a verdade é que se não houvesse sem-abrigo e deficientes para que é que a Câmara baixa de Lisboa haveria de ter promovido e financiado uma Conferência sobre Combate à Pobreza e Exclusão? Ou, como dizia o outro, se não fossem os pobres o que seria da caridade?

João Paulo Guerra
In Diário Económico, 16.03.2007

4 comentários:

Anónimo disse...

Realmente não me lembro de nada que faça mais falta aos deficientes ou aos sem abrigo que os arraiais alfacinhas...
Eu sei o porquê das festas... É o negócio do turismo, sobretudo! Atormenta-me perceber que valem mais umas moedas vindas de fora que a fome dos nossos indigentes!

Anónimo disse...

Cada vez compreendo menos a posição dos comunistas na CML, então um partido defensor das "classes trabalhadoras e dos pobres e oprimidos", que se acha na posse de uma superioridade moral para abordar todos os assuntos, numa altura em que existem salários em atraso na CML (é o Ruben quem o diz), vota contra a diminuição de desperdicio de dinheiro em festas e festins?
Será que o PCP foge de eleições a todo o custo?
Já não bastavam as várias coligações PCP/PSD nas juntas de freguesia, ainda temos uma coligação na CML?
Já não percebo nada disto...
o que o medo dos resultados eleitorais do Bloco fazem, enfim...

Anónimo disse...

Pois eu acho que sei o porque desta votação do PCP, ora vejamos.
Os Arraiais, são feitos nas colectividades !!!. Todos sabem qual a base de apoio do PCP, bem sei que a vão perdendo, mas enquanto isso algumas colectividades têm de continuar a ser alimentadas, para por sua vez poderem alimentar, certo!!!. Dá-se o caso de que nos dias de festas, toda a Lisboa está engalanada, com os seus arquinhos e balões, ora as colectividades não fogem à regra. Montam os seus arraiais, e toma que lá vai disto a vender sardinha numa fatia de pão a um euro e meio. Como não pagam taxas à CML, vejam bem o que se ganha naquela noite, pois então, acho bem até porque as colectividades estão a passar um mau bocado, mas isso são trocos para outro dia. Já preceberam porqu é que o PCP votou a favor da proposta do PSD!!!!!!!!!
Mas esperem porque qualquer dia vem mais bronca!!!!!!!

O Alfacinha de Gêma

Anónimo disse...

A velha máxima romana "Haja pão e circo" mantém-se, ou seja, desde que uma parte da população se divirta nos arraiais e festas de Lisboa (designadamente aqueles que votam e as colectividades dominadas pelo PCP) pouco interessa os mais fracos, pois deles não reza a história e não consta que votem. Se a tentativa de mascarar a realidade do escândalo que é o débil funcionamento da CML é manifesto por parte de Marques Mendes e sua pandilha, o servilismo do PCP para garantir o "fartar vilanagem" dos seus pares durante as festas e quiça o seu financiamento, é no mínimo parasitário!!! Assim vai Lisboa...