quarta-feira, 7 de março de 2007

Quando o sonso triunfa

Carrilho teve um mérito: Carmona é, de facto, um sonso. E como bom dissimulado alapa manso quando se sente inseguro e descola quando percebe a insegurança do outro.
Não espanta que se mostre disponível e interessado numa recandidatura à presidência da câmara – numa declaração que, podendo parecer patética, contém um desafio e uma ameaça. A primeira dirigida a quem o aguentou no pico da crise. É também ultrajante para o PSD saber que Carmona sabia que Fontão fora constituído arguido. Sabia desde a primeira hora mas calou-se. Porquê? Por considerar o facto irrelevante.
É óbvio que protegendo o amigo protegia-se a si. Não surpreende que Fontão continue à frente da Associação de Turismo de Lisboa. Ou que Gabriela Seara seja visita do gabinete camarário. Nada impede que o faça, como refere um assessor de Carmona. Pois não, a falha tem a ver com a falta de pudor.
O que verdadeiramente surpreende é a forma com que Marques Mendes tem gerido a calamidade. Percebe-se que num primeiro momento tenha pressentido o abismo.
E, temendo-o, resistiu. Não se entende como ainda não percebeu que a manutenção da vergonha significa o pior dos suicídios: lento e doloroso.
O dele, obviamente. Porque os sonsos safam-se sempre.
Quase sempre.


Raul Vaz
In Jornal de Negócios, 07.03.2007

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